A felgueirense Daniela Coelho, 29 anos, Terapeuta Ocupacional na Cercifel, natural de Idães, Barrosas, lutou com a leucemia aguda mielóide. Venceu a batalha. Hoje sente-se uma pessoa melhor. A doença ensinou-a a valorizar a vida e a aproveitar cada momento. Publicou um livro onde conta os capítulos de uma fase da sua vida que a transformou como pessoa.
Quando é que foi detetada a doença?
Em janeiro de 2019 em consequência de otites e infeção na axila. Fiz uma análise e os resultados indicaram que estavam alterados. Fui encaminhada para o Hospital de S. João e no próprio dia foi detetada a doença.
A leucemia mieloide é um tipo de leucemia grave…
Leucemia é cancro no sangue, seja qualquer for o tipo é grave. Este tipo é grave, agressivo, sem dúvida. Mal soube o diagnóstico fiquei internada e no dia seguinte já estava a fazer quimioterapia. Foi um choque. Então, saber que ia ficar um mês internada, ainda agravou o choque.
Como encarou a doença?
Inicialmente foi um choque, como disse. Optei por não ter visitas porque achava que precisava de tempo para interiorizar o que tinha e a forma como iria lidar com a doença. Com o tempo que tive só para mim, sem pessoas a preencher o nosso espaço com perguntas, iria ser difícil, e assim consegui levar a doença de forma leve.
Mas, não tinha visitas nenhumas?
Tinha a visita dos meus pais e mais ninguém. Foi uma opção minha.
Quanto tempo demorou todo o processo?
Fiz cinco ciclos de quimioterapia e em cada um fiquei internada um mês. Em setembro de 2019 fiz exames e estava tudo bem, mas em março de 2020, ligaram-me a dizer que a doença tinha voltado. Fui encaminhada para transplante de medula óssea.
E conseguiu um dador compatível?
Sim, consegui felizmente. Tinha até dois dadores compatíveis.
Sabe quem é? Conhece?
Não, não sei. Só recebi uma carta, mas sem qualquer identificação. Não sabemos quem é.
No fundo, um desconhecido salvou-lhe a vida?
Sim, foi isso mesmo. Sei apenas que é uma jovem de 25 anos. Salvou-me a vida. Não posso esquecer-me disso. Não esquecerei jamais isso.
Tem uma dívida de gratidão para com uma pessoa que não conhece?
É isso. Essa pessoa que me salvou a vida, que teve a minha vida nas suas mãos, salvou-me. Por isso apelo a que todos sejam dadores, pois podem salvar vidas.
“Uma pessoa que não conheço salvou-me a vida. Estou-lhe eternamente grata”
Após o transplante, o que aconteceu?
Estive um ano isolada. Nem com os meus pais almoçava ou jantava. Isolamento total.
O que sentiu nesse período de isolamento?
Inicialmente, devido à debilidade senti-me fraca, cansada. Foi complicado, mas depois soube lidar com isso. Interiorizei que tinha de fazer isto para depois voltar à vida normal.
O que é que mudou na sua vida depois de ter ficado curada?
Fortaleceu-me. A doença fez-me descobrir coisas novas, ver a vida de forma diferente. Se fui capaz de ultrapassar este grave problema, acredito mais em mim, que sou capaz. Sou mais otimista, mais resiliente, mais inteligente e mais humana.
Entretanto, surge o seu livro Trilhos de uma Guerreira…
Comecei com escrever os textos do livro num blog. Como recebia mensagens de pessoas que estavam a passar pelo mesmo que eu passei, decidi pegar nesses textos e publicá-los num livro. Se chegar a uma pessoa e a ajudar, já fico satisfeito. É um livro de reflexões e mensagens.
De que género?
De ânimo, de se aproveitar a vida, de aproveitar o que a vida nos dá a cada momento…
Como está a ser a aceitação do seu livro?
Melhor do que esperava. Já vai na segunda edição.
Quem compra o livro?
Tenho muitos leitores aqui da zona de Barrosas, que apareceram em massa na apresentação, mas também de vários pontos do país.
Que mensagem gostaria de deixar?
Para aproveitaram cada dia, para fazerem hoje e não adiaram para amanhã. Que se agarrem a uma coisa boa que lhes acontece em cada dia e esqueçam as más. Aproveitam o presente, porque amanhã não sabemos como será. A vida fica mais leve, se for levada assim.